sábado, 22 de agosto de 2020

ÚLTIMO CURRAL ELEITORAL

A disputa pela Prefeitura de Almino Afonso, município encravado na região do Médio/Alto Oeste potiguar, será entre a chamada velha política, representada pela tradicional família Abel, e o novo, conduzido por Dr. Netinho. Pela primeira vez em décadas, a oposição tem chances reais de vencer as eleições, conforme todas as pesquisas realizadas até aqui e que estão nas mãos dos líderes políticos locais.

Os Abéis são conscientes do desejo de mudança da população, por isso, se dividiram para tentar evitar uma derrota. Os irmãos Waldênio Amorim (PSB), atual prefeito, e Bernardo Amorim (Avante), deputado estadual, encenaram uma briga. Waldênio será candidato à reeleição, enquanto Bernardo lançou a filha Jéssica Amorim (MDB) como a sua candidata.

Ou seja, na estratégia da tradicional família, os Abéis continuariam no poder com o tio ou sobrinha. E, daí, ampliaria por mais quatro anos a sequência no controle do município, iniciado na década de 80 e que se mantém até hoje.

Nesse período, os Abéis se beneficiam do Poder. Em 1982, chegaram à Prefeitura com o prefeito eleito Zé Fernandes, que teve como vice-prefeito o velho Abel. Em seguida, em 1988, elegeram prefeito Abel Filho, que também foi prefeito do vizinho município de Rafael Godeiro. Depois, em 1992, ganharam com a prefeita Ribana Fiala, na época esposa de Bernardo Amorim, ou seja, nora do velho Abel. Em 1996, a única derrota em quatro décadas, quando Zé Fernandes derrotou Fátima Amorim, outra nora do velho Abel, casada com Nilson, irmão de Bernardo e de Waldênio Amorim.

Na sequência, os Abéis assumiram a Prefeitura e não soltaram mais, elegendo Bernardo Amorim em 2000 e 2004, Lawrence Amorim, sobrinho de Bernardo e Waldênio, em 2008 e 2012, e por fim, elegendo Waldênio Amorim em 2016.

Nessas quatro décadas, os Abéis montaram estrutura que salta aos olhos, controlando a maternidade local, espécie de “galinha dos ovos de ouro”, conseguiram formar filhos e sobrinhos em medicina, para servir aos projetos políticos. Enquanto os filhos de famílias mais humildes não tiveram direito a um ensino de qualidade, nem a oportunidade de emprego e de vencer na cidade.

Almino Afonso ficou parada no tempo. O município não se desenvolve, não oferece nada aos jovens que, sem perspectiva local, precisam sair para outras cidades em busca de um futuro melhor. Para se ter ideia do atraso, a Prefeitura de Almino Afonso, talvez, seja a única do RN ou quem sabe do País, que usa cheque para pagar conta, em plena era da tecnologia e da transparência no serviço público.

Em municípios onde o coronelismo se perpetua, a política deixa de ser a ciência do bom governo e, em vez disso, torna-se arte da conquista e da conservação do poder.

É nesse cenário, de contraponto da velha política, que a postulação de Dr. Netinho ganha força. O candidato de oposição chega forte a partir de uma base construída pelo vereador Júnior de Mourão (Republicanos), que dá sustentação ao projeto de mudança de Almino Afonso.

Portanto, os mais de cinco mil eleitores de Almino Afonso terão a oportunidade, pela primeira vez em décadas, de escolher entre a política do coronelismo e a nova política.

Em tempo, Almino Afonso é um dos poucos municípios da região que ainda não se livrou da política do “curral eleitoral”. Quem sabe não será este ano.

Amanhã, analisaremos a sucessão de Pau dos Ferros.

defato.com
Coluna César Santos - 21 de agosto de 2020

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