Os
20 mil alunos – número que cresce anualmente – estudam Medicina em
faculdades particulares da Bolívia. Falta de locais para o ensino da
prática médica, docentes sem preparo e vagas ilimitadas, sem qualquer
processo seletivo, formam um cenário preocupante.
Só fachada: prédios de algumas universidades são modernos e espaçosos, mas não têm local próprio para aulas práticas
Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Pela manhã,
milhares de estudantes brasileiros preparam-se para as aulas em alguma
das cinco faculdades privadas de Medicina da cidade. A mesma cena se
repete em Cochabamba e, em menor grau, em La Paz, Cobija, Oruro, Potosi e
Sucre. São jovens e adultos cujo sonho de ser médico encontram nos
preços irrisórios e nas vagas ilimitadas, sem vestibular, um caminho
fácil para o diploma, mas que não garante uma formação adequada. A falta
de ensino prático e muitos professores sem a habilitação necessária são
problemas graves que repercutem no Brasil. Praticamente todos os
estudantes querem voltar e exercer a profissão aqui.
O que fazer para que egressos sem o preparo
adequado entrem no mercado de trabalho? A posição do Conselho Regional
de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) é clara: apoiar o Revalida
(Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por
Instituições de Educação Superior Estrangeiras). Entretanto, rumores a
favor da flexibilização dessa prova – com o objetivo de preencher vagas
de médicos em lugares longínquos – adicionam mais combustível ao
debate.
Marketing
agressivo: Você ganha 10% de
desconto na mensalidade a cada novo aluno que apresentar à faculdade.
A dificuldade para se conseguir o CRM faz com que
muitos egressos, da Bolívia ou de outros países, exerçam a Medicina
clandestinamente no Brasil, o que torna a situação ainda mais
complicada. O brasileiro A.C.V., que se formou há um ano em uma
faculdade boliviana, conta que trabalha, desde o início de 2012, em uma
cidade da Bahia, com o CRM de um colega brasileiro. “Faltam muitos
médicos na região onde estou. Por isso, trabalho em três equipes do PSF e
estou ganhando R$ 26 mil por mês”, vangloria-se. Ele falou à Ser Médico
em Santa Cruz de la Sierra, onde estava para buscar sua documentação
escolar. O ex-aluno Guilherme Ghiraldini confirma que “muitos ex-colegas
trabalham clandestinamente, principalmente em ambulâncias”.