sábado, 18 de outubro de 2025

Apesar do aumento de casas e moradores na zona urbana de Almino Afonso-RN, os números revelam que o município perdeu população nas últimas décadas

Em 1970, o município de Almino Afonso-RN tinha 6.878 habitantes, sendo 5.111 vivendo na zona rural e 1.767 na cidade. Vinte e um anos depois, em 1991, a população total caiu para 4.974 habitantes, uma redução de quase duas mil pessoas. Nesse período, o campo perdeu mais da metade de seus moradores - caiu para 2.308, enquanto a zona urbana ultrapassou o número de residentes rurais, chegando a 2.666 habitantes.




 

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ajudam a contar uma história que se repete em considerável parte do sertão do Rio Grande do Norte, ou seja, a do êxodo rural. Em Almino Afonso-RN, essa realidade pode ser vista nos números e sentida nas comunidades rurais cada vez mais vazias.

O cenário (fotos) se acentuou na virada do milênio. Em 2000, o município somava 5.195 habitantes, com 3.375 vivendo na cidade e apenas 1.820 no campo. A estimativa mais recente do IBGE, de 2025, aponta que Almino Afonso-RN tem 4.802 moradores, a grande maioria concentrada na área urbana.

De acordo com o Censo Demográfico 2022, 71,42% da população de Almino Afonso-RN vivia na zona urbana, enquanto 28,58% residia na zona rural. Naquele ano, o município tinha 4.687 habitantes, sendo aproximadamente 1.339 pessoas morando no campo.

Usando essa mesma proporção, a estimativa de 2025 indica que a zona rural abriga cerca de 1.370 habitantes, o que confirma o esvaziamento contínuo do meio rural nas últimas décadas.

À primeira vista, pode parecer que a cidade cresceu - afinal, há mais ruas, casas e construções do que antes. Mas os dados mostram o contrário, ou seja, o município perdeu população, e o crescimento urbano é, na verdade, resultado da migração interna, de quem saiu do campo em busca de melhores condições de vida na sede municipal.

O fenômeno tem várias explicações. Entre as principais estão a redução das oportunidades de trabalho no campo, a falta de políticas de incentivo à agricultura familiar e os efeitos da seca prolongada. O baixo acesso a serviços públicos, como educação e saúde, e a falta de infraestrutura, como estradas e energia elétrica, também levaram muitas famílias a deixar a zona rural em busca de emprego, renda e melhores condições de vida.

Outro fator marcante foi a construção do Açude Público Lauro Maia. Após sua construção, muitas pessoas - principalmente vindas da zona rural - passaram a construir suas casas próximas ao reservatório. Dali nascia o bairro do Açude, hoje conhecido como bairro Francisco Godeiro Carlos, atualmente o mais populoso da cidade.

Além desses aspectos econômicos e estruturais, há também uma mudança profunda no perfil das famílias sertanejas.

Na década de 1970, as famílias eram numerosas, muitas vezes com sete, oito, dez, quinze e até mais filhos, e viviam em pequenas casas, na maioria de taipa, espalhadas pelo sertão. A força de trabalho familiar era essencial para a sobrevivência e para a lida na roça.

Hoje a realidade é diferente, ou seja, o número de filhos por casal caiu bastante - em média entre um e três filhos, segundo as tendências demográficas regionais. Apesar disso, o aumento do número de casas ocupadas na cidade pode dar a falsa impressão de crescimento populacional. Na verdade, essa expansão reflete mudanças nos arranjos familiares e nas formas de moradia - famílias menores e maior independência doméstica - e não necessariamente um aumento do total de habitantes.

Para muitos, a mudança para a cidade - ou mesmo para centros maiores como Mossoró-RN, Natal-RN e até outros estados - representa a única alternativa possível. O resultado é um município com zona rural esvaziada, comunidades tradicionais enfraquecidas e produção agrícola reduzida. Ao mesmo tempo, a zona urbana cresce de forma desordenada, exigindo mais investimentos em moradia, saneamento, saúde, educação e emprego e renda.

Planejar o futuro de Almino Afonso-RN exige uma visão que vá além dos limites urbanos, buscando soluções que fortaleçam a vida no campo e assegurem condições dignas para quem vive na zona rural. Só assim será possível reduzir as desigualdades entre o campo e a cidade.

Por fim, é essencial que Almino Afonso-RN encontre caminhos de desenvolvimento que mantenham vivas suas raízes, tanto no campo quanto na cidade.