Tudo corria bem com o Dr. Lavoisier em Catolé do Rocha. Mas, certo dia, ele foi à festa de bodas de prata na fazenda do Dr. João Sergio Maia, Juiz de Direito da cidade, que morava a uns três km fora. Houve uma missa de ação de graças da qual participaram quase todos os convivas, inclusive Lavoisier. Quando terminou a Missa, um amigo seu lhe disse que havia um complô arquitetado contra ele. Apesar de Catolé do Rocha não possuir um clube social naquela época, Lavoisier presidia uma associação que se reunia num local atrás do prédio da prefeitura. Por volta das 20 horas, ele chegou no seu jeep ao local da festa. Já havia chegado bastante gente. Eis que, de repente, apareceu Francisco Suassuna, vulgo Chiquinho. Era um homenzarrão, valente, musculoso. Deu boa noite e perguntou: "Vai haver festa aqui?" Lavoisier respondeu afirmativamente. Em seguida, Chiquinho Suassuna lhe disse: "Vou trazer Janduis, meu primo, para dançar nesta festa". Ora, toda a Catolé do Rocha sabia que Janduis era um bandido, inimigo do Dr. João Sérgio e não era sócio da agremiação. Então, Lavoisier lhe respondeu: "Ele vai dançar aqui só depois que passar por cima do meu cadáver". Ao ouvir esta resposta, Chiquinho Suassuna deu um murro na cara de Lavoisier. Caído, ele puxou o revolver e deu um tiro que atingiu os pulmões do agressor. Os dois ficaram trocando bala. Neste momento, Janduis e seus sequazes começaram a atirar em Lavoisier O tesoureiro da agremiação, Cantidiano, amigo fiel de Lavoisier, tentou evitar a briga, mas foi morto no tiroteio. No final, na roupa de Lavoisier, foram contadas 17 perfurações. Ele foi atingido na coxa direita, nas costas acima da homoplata e nos braços. Um projétil penetrou no pescoço e saiu pelo ouvido, atingindo também o nervo facial. Chiquinho Suassuna fugiu certo de que tinha matado um Maia. Este confronto armado aconteceu em 1956.
Lavoisier, estendido no chão, perdia sangue por todos os poros. Fazia apenas respirar. Ivete Gonçalves Maia, seu parente, levou-o para o seu consultório. Catolé do Rocha entrou em clima de guerra. Os Maias, armados, foram à casa do Dr. Antonio Benjamim Filho tomar satisfações, pois, ele prestou socorro médico a Chiquinho Suassuna. Além disso, achavam que ele era o mentor intelectual daquela tragédia. Quem evitou que acontecesse uma carnificina foi a presença de uma Companhia do Exército, do Batalhão de Engenharia, que estava na cidade. O Capitão da Companhia, Eutímio Pires Cavalcante, agiu com rapidez e inteligência. Pediu calma a todos. Colocou soldados em frente do consultório de Lavoisier e outros em frente da casa do Dr. Benjamim. Nas entradas e saídas da cidade, todos eram revistados e desarmados. Desta forma, ele conseguiu controlar a população e evitar uma carnificina.
A notícia do estado de saúde de Lavoisier espalhou-se rapidamente pelo sertão a fora. Quinze médicos vieram a Catolé do Rocha lhe prestar solidariedade e assistência. Mais uma vez, o Dr. Otávio Maia, primo de Lavoisier e seu colega da faculdade, salvou a vítima. Ele aplicou coramina e soro em Lavoisier. Injetou também plasma. No entanto, estas providências se mostraram insuficientes. Era preciso injetar sangue. Então, um avião procedente de Mossoró, pousou em Jardim de Piranhas trazendo sangue para o paciente. Somente depois que Lavoisier recebeu sangue, foi que ele recobrou os sentidos e foi melhorando paulatinamente. Ele passou três dias e três noites nesta agonia, entre a vida e a morte. Para levá-lo para um centro maior, onde pudesse fazer o tratamento adequado, a Companhia do Exército e os familiares, em tempo recorde, fizeram um campo de avião em Catolé do Rocha.
Assim que ele recobrou os sentidos, o Dr. Otávio Maia levou-o, num avião teco-teco, para o Hospital do Centenário, em Recife. O paciente chegou ao Hospital com 41 graus de febre. Permaneceu aí 45 dias. No final deste tratamento, já recuperado, Lavoisier apaixonou-se por Helena, que estava operada. Ambos começaram a namorar. Excelente remédio para espantar a tristeza e a lembrança daquela tragédia.
Por sugestão do então Deputado Federal, João Agripino Filho, seu primo, Lavoisier foi levado para o Instituto de Neurologia do Rio de Janeiro, para se operar. Lá, o Dr. Portugal operou, com sucesso, o nervo facial fora atingido por um projétil. Mesmo assim, ele ficou com seqüelas na face e no ouvido até os dias atuais.
Para se recuperar dos estragos feitos pelos estilhaços que penetraram na perna e no braço, Lavoisier passou seis meses engessado, suportando - Deus sabe como! - um calor de 41 graus sem ar condicionado. Quando tiraram o gesso da sua perna, ela estava só o couro e o osso. Ele andava com muita dificuldade. Recuperou-se fazendo muita fisioterapia.
E o que aconteceu com o agressor? Chiquinho Suassuna ficou bom do tiro que levou nos pulmões. Anos depois, ele matou um rapaz, que era ainda de menor idade. A maior parte da população de Catolé do Rocha revoltou-se contra ele. O pai da vítima ficou profundamente indignado, tanto foi assim que armou uma emboscada e o matou barbaramente, juntamente com os seus capangas.
Lavoisier e Chiquinho Suassuna foram processados. Mas, devido às influências políticas, não houve júri popular e ambos foram absolvidos pelo juiz da comarca.
Lavoisier Maia Sobrinho nasceu no dia 9 de outubro de 1928 e faleceu no dia 11 de outubro de 2021 (93 anos).