Desde a campanha presidencial, quando Bolsonaro fez pose de candidato antissistema, seus adoradores cultivavam a fantasia de que o capitão governaria sem fazer concessões à velha oligarquia. Não negociaria com o centrão. Negociou. Não entregaria estatais nem bancos públicos. Entregou. Não levaria ministérios ao balcão. Levou. Recriou a pasta das Comunicações, acomodando nela o deputado Fabio Faria (PSD-RN), genro de Silvio Santos, o dono do SBT (foto).
De falta de originalidade Bolsonaro não pode ser acusado. Inventou uma nova modalidade de aliança política: a coalizão-salame. Serve seu governo ao centrão em fatias. Primeiro, entregou cofres como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, a Fundação Nacional de Saúde e até a Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde, que deveria ser estratégica no combate ao coronavírus.
Na sequência, o presidente colocou na roda o organograma da pasta da Economia, cedendo ao centrão a presidência do Banco do Nordeste. Avança agora para as fatias ministeriais. Tendo presenteado o Ministério das Comunicações ao genro de Silvio Santos, Bolsonaro terá dificuldades para negar o pleito do Republicanos, braço partidário do grupo evangélico-televisivo de Edir Macedo.
O Republicanos reivindica a recriação da pasta da Indústria e Comércio, um dos cinco ministérios enfiados dentro do superministério da Economia. O centrão nunca se contenta com tudo. Sempre quer mais um pouco. De fatia em fatia, Bolsonaro desliza quase sem sentir para o outro lado. Foi dormir imaginando que representava a "Nova Política" e acordou de mãos dadas com jeffersons, valdemares, liras e outros azares.
A plateia não gosta do que vê. Segundo o Datafolha mais recente, divulgado no mês passado, 67% dos brasileiros reprovam o casamento de Bolsonaro com o centrão. Natural. A história mostra que esse tipo de matrimônio, 100% bancado pelo déficit público, costuma terminar em patrimônio.
Josias de Souza
Colonista do UOL