Desde 1º de janeiro de 2019, o presidente da República vive tentando conciliar duas necessidades conflitantes: ser Jair Bolsonaro e manter um mínimo de compostura. Na noite da Terça-feira Gorda, um post do capitão no Twitter reforçou a suspeita de que Bolsonaro e compostura são mesmo dois elementos inconciliáveis.
O presidente publicou na rede antissocial um vídeo obsceno. Nele, um sujeito exibe as nádegas desnudas no alto de um ponto de ônibus. Acaricia o ânus. Ao fundo, ouve-se a algaravia típica de um bloco carnavalesco. Na sequência, um segundo personagem retira o pênis de dentro da bermuda e urina sobre a cabeça do primeiro.
Bolsonaro anotou que não se sentiu "confortável em mostrar" o vídeo. Mas acrescentou: "Temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades". Depois, cometeu uma generalização tola e ofensiva: "É isto que têm virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro".
Cinco dias antes, Bolsonaro dissera a 13 jornalistas com quem dividiu a mesa do café da manhã que decidira levar na coleira as opiniões que Carlos 'Pitbull' Bolsonaro, seu filho 'Zero Dois', despeja nas redes. "Tudo passou a ter um filtro da minha parte", declarou. Faltou responder: Quem filtrará os pensamentos do pai?.
O problema está na árvore, não nos frutos. Vale para os Bolsonaro uma adaptação do velho brocardo: quem sai aos seus não endireita. A exibição do vídeo escatológico é de fácil solução. O próprio Twitter pode acionar suas regras internas para retirar a vulgaridade que Jair Bolsonaro jogou no ar.
A parte mais difícil do problema é ter que lidar por pelo menos quatro anos com um presidente cuja massa cinzenta não produz senão pensamentos sombrios. Algumas observações de Bolsonaro não poderiam ser distribuídas nem nas bancas, embaladas em plástico preto. Mas elas são despejadas diariamente na internet, na frente das crianças. É como se o país estivesse condenado a uma crise de compostura perpétua.
Blog do Josias - Josias de Souza