domingo, 10 de março de 2019

Beto Richa junta-se a Cabral no clube do escárnio


Repulsa, eis a sensação que resulta da imagem da confraternização aquática do ex-governador tucano Beto Richa com empresários acusados de desviar verbas escolares no Paraná. Captada por um ex-assessor em novembro de 2014, na piscina do Delano, hotel chique de Miami, a foto ilustra um dos inquéritos protagonizados por Richa. Com ela, o tucano entra para o clube do escárnio, que tem como sócio-atleta o ex-governador fluminense Sérgio Cabral. 

No quesito novorriquismo, Richa ficou aquém do colega. A passagem por Miami, com escala no Caribe, não se equipara à aventura parisiense de Cabral, com esticada em Mônaco. Um espumante com morangos no Delano vira degustação brega quando comparado às opções da carta de vinhos do Alain Ducasse de Mônaco, o restaurante onde Cabral festejou o aniversário da mulher Adriana Anselmo, em 2009, ao lado do dono da Delta Engenharia, Fernando Cavendish, e sua noiva. 

Richa perdeu também no quesito alegorias. Não se observa na piscina de Miami nada que se equipare aos guardanapos que Cavendish e dois então secretários do governo Cabral (Sérgio Côrtes e Wilson Carlos) amarraram na cabeça após jantar no restaurante do Hotel Ritz de Paris. De resto, as mulheres de Richa e seus supostos patronos ficaram devendo uma fotografia semelhante à das senhoras risonhas que exibiram seus calçados Christian Louboutin nas ruas de Paris como troféus. 

Num ponto, porém, Richa igualou-se a Cabral: a ausência de recato. Se bobear, o tucano emergente superou o alpinista do PMDB nesse tópico, pois deixou-se fotografar ao lado de corruptores no final de 2014, dois anos depois que as imagens das vilegiaturas de Cabral haviam ganhado as manchetes. 

Afora a superexposição de Cabral, já reluzia no noticiário a Lava Jato. A célebre operação fora deflagrada oito meses antes do mergulho de Richa na piscina de Miami. Só a certeza da impunidade explica que o então governador do Paraná tenha permitido que o melado continuasse escorrendo de sua administração. Hoje, Richa é cliente da força-tarefa da Lava Jato e também do Ministério Público do Estado. Protagoniza quatro processos. É improvável que some os 198 anos de cadeia já colecionados por Cabral. Mas dificilmente se livrará da tranca 

A foto que promoveu Richa ao estágio de escárnio foi fornecida pelo delator Maurício Fanini. Trata-se de um ex-colega de escola do tucano, que serviu ao governo paranaense como diretor da Secretaria de Educação do Paraná. Foi preso em 2017, numa operação batizada de Quadro Negro. Investigam-se desvios estimados em R$ 20 milhões —verba que deveria ter sido usada, veja você, na reforma e construção de escolas. 

Alguém que desdenha da posteridade para tirar, conscientemente, dinheiro de um sistema educacional carente de verbas revela uma crueldade abjeta. Coisa própria dos heróis nietzschianos, para os quais a moral convencional não passa de um desafio à sua convicção de superioridade. Não ocorreu a ninguém dizer: "Gente, quem sabe da Educação seria melhor não roubar!" Além de revelar uma vilania pessoal, o roubo em áreas como educação e saúde escancara a insensibilidade de um sistema apodrecido. É o escárnio em estado bruto.

Blog do Josias  -  Josias de Souza