Brasília voltou a respirar uma atmosfera de bazar. A disposição do governo para acabar com o chamado toma-lá-dá-cá diminui à medida que cresce a percepção de que Jair Bolsonaro não sairá do lugar sem uma base congressual que lhe permita aprovar as reformas que prometeu. A movimentação do ministro Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, dá uma ideia do que está acontecendo.
No mês passado, na primeira semana depois da posse do novo governo, o ministro exonerou 320 servidores lotados em cargos de confiança na Casa Civil. Embora seu antecessor na pasta fosse Eliseu Padilha, do bom e velho MDB, Onyx chamou a demissão coletiva de "despetização". Ele informou que, em reunião com todos os ministros, Bolsonaro referiu-se a essa canetada como um exemplo a ser seguido em todos os ministérios. Era lorota.
Numa extraordinária meia-volta, Onyx comunicou aos ministros que está suspensa a dança de cadeiras nos órgãos federais. Deve-se a mudança de orientação a uma chiadeira de congressistas que brigam não para ocupar, mas para manter cargos que já controlam na máquina estatal. Alguns desses parlamentares são fisiológicos profissionais. Apoiavam Fernando Henrique Cardoso. Continuaram apoiando Lula. Deram suporte a Dilma. Derrubaram Dilma para manter seus espaços sob Michel Temer. Agora, namoram a gestão Bolsonaro. E são plenamente correspondidos.
No momento, o governo realiza um grandioso mapeamento de cerca de 20 mil poltronas. Deseja identificar o nome dos políticos que apadrinharam cada nomeação. Se tiver disposição para aprovar as reformas de Bolsonaro, mantém o assento. Do contrário, vai para o olho da rua. Atendidos, certos parlamentares oferecem quase tudo ao Planalto. Só não oferecem a honra porque têm medo de que seja exigido certificado de origem.
Josias de Souza