Bento XVI se despediu ontem deixando como
legado a coragem de expor ao mundo os desafios da Igreja. Seu discurso,
para uma Praça São Pedro lotada, resumiu seu pontificado, deixando claro
que a instituição atravessou “águas turbulentas”, informa o enviado
especial Jamil Chade. “Houve dias de sol e uma brisa leve. Mas também
outros em que as águas estavam agitadas, o vento soprava contra e o
Senhor parecia estar dormindo”, disse, em referência às crises
envolvendo o Vaticano. “Mas eu sabia que Ele estava dentro da barca.”
Para muitos no Vaticano, a mensagem é simples: não é o poder nem o papa
que estão no centro da Igreja, mas a fé. “A barca da Igreja não é minha,
não é nossa. Mas Dele e Ele não deixará que afunde”, completou. Bento
XVI admitiu que sabia das consequências de seu ato, mas que a decisão
foi tomada “com serenidade”. Ele reafirmou que não voltará à vida
pública e mandou um recado ao sucessor: “Aquele que assume o Ministério
de Pedro não tem mais privacidade”