Existiu uma vez um povoado de criaturas que viviam no fundo de um rio de águas claras. Elas se alimentavam de algas e plantas. Com medo de um dia não terem o que comer, as criaturas começaram com o tempo a se agarrar com toda a força às pedras onde ainda encontravam algum alimento. Agarrar-se era seu meio de vida, e todas aprendiam a agir assim desde que nasciam. Enquanto isso o rio passava, sereno, sobre todas essas criaturas.
Um dia, no entanto, uma das criaturas decidiu parar de se agarrar às
pedras: - Não agüento mais isso... Vou deixar a corrente me levar e ver o que
acontece.
As outras criaturas riram do companheiro e todas o chamaram de louco: -
Você morrerá!
Mesmo assim, aquele habitante das águas claras soltou-se e foi
imediatamente lançado sobre as pedras, o que a princípio o deixou um pouco
atordoado. Mas logo em seguida ele aprendeu a se desviar delas e, solto como
estava, foi subindo em direção à superfície, onde encontrou as mais diversas
espécies de plantas e algas, com as quais saciou sua fome.
Lá embaixo, as criaturas olharam na direção dele e, sem reconhecê-lo,
disseram: - Vejam! Uma criatura que voa!
E
aquele que tinha se permitido ser levado pela corrente disse às criaturas: - O
rio nos ergue para a liberdade quando ousamos nos soltar.
Porém, por mais que tentasse convencer as criaturas a se soltar também,
ele não conseguiu, e elas continuaram agarradas às pedras. Mas a partir daquele
dia algo havia mudado, e algumas criaturas das águas claras começaram também a
sonhar com o dia em que conseguiriam arriscar e deixar a água as levar para
passear.
Quando leio esta história, me vem à mente certas cidades que resistem a
mudanças. Permanecem acomodadas, mesmo sentindo que estão sendo
engolidas pela falta de atitude; mesmo sabendo da evolução da
tecnologia, continuam na era do
papel carbono. São cidades que preferem continuar inertes em seu modelo
arcaico em vez de ousar em busca de alternativas - muitas vezes
arriscadas, é
verdade - que poderiam lhes abrir muito mais chances de sucesso do que
se
permanecessem num estado de verdadeira paralisia, apoiadas em paradigmas
do
passado, então meus amigos não vamos ter medo de arriscar.
Sábio é o homem que consegue mudar de situação quando se vê forçado a
isso.
Alexandre Rangel.