Almino Afonso se prepara para celebrar o renascimento de um de seus mais emblemáticos patrimônios, o Mercado Público. Após o trágico derrocada de 10 de julho de 2022, a restauração da estrutura e a iminente inauguração prometem reacender as esperanças e a efervescência comunitária que sempre caracterizaram este espaço. Convites foram distribuídos, famílias se preparam para testemunhar a reabertura, mas uma ausência dolorosa, um silêncio ensurdecedor, paira sobre este momento de celebração, expondo uma falha grave na gestão e na memória pública municipal.
É a ausência da família de Antonio Nunes de Oliveira Sobrinho, o nosso querido Lila (in memoriam).
Lila
Lila não foi apenas um idealizador de grandes eventos; ele foi a alma e a bússola que, por décadas, manteve o Mercado Público de pé, não apenas fisicamente, mas como um vibrante centro de convivência e alegria. Muito antes da fatídica data de 2022, enquanto o poder público parecia alheio à lenta degradação, Lila e sua família, com suas próprias mãos e recursos, substituíam caibros apodrecidos, mantinham a estrutura, e, acima de tudo, impediam que a história e as memórias de Almino Afonso se desvanecessem no esquecimento.
Os mais tradicionais carnavais, as festas que uniam famílias, os enfeites de Natal que ele, por conta própria e sem qualquer apoio do poder público da época, pendurava, eram mais do que eventos; eram manifestações de um amor incondicional por sua cidade e seu povo. Lila transformou o Mercado Público em um palco de encontros, risadas e confraternização, um verdadeiro epicentro do entretenimento comunitário. Ele legou à cidade não apenas boas festas, mas uma cultura de união e celebração que hoje é convenientemente ignorada. Embora Lila tenha partido há 25 anos, as boas memórias de seus grandes eventos ainda ecoam e permanecem vívidas na mente de muitos cidadãos, provando que seu legado transcende o tempo.
No entanto, o tempo, por vezes, tem uma memória seletiva, especialmente quando a conveniência política dita o que deve ser lembrado. A notícia da reinauguração, carregada de pompa e circunstância, escancara uma ferida profunda: a ausência de um convite àqueles que, literalmente, deram o sangue e o suor para que este patrimônio não desabasse antes da hora. É uma lacuna inexplicável, uma demonstração de ingratidão que não apenas negligencia uma família, mas apaga uma parte vital da história de dedicação e altruísmo que moldou o Mercado Público. É inadmissível que, após destinar recursos para uma restauração, a mesma gestão municipal seja incapaz de honrar quem, com seu próprio esforço, evitou que o pior acontecesse muito antes. Este é apenas mais um triste exemplo do descaso da atual administração, que sistematicamente falha em reconhecer e homenagear as pessoas que, de fato, construíram e engrandeceram Almino Afonso.
Não houve, em vida, uma homenagem digna para quem tanto contribuiu. E agora, no momento de ressurgimento do local que ele tanto amou e preservou, a família de Lila é deixada à margem, como se sua colossal contribuição nunca tivesse existido. O poder público municipal falha fragorosamente ao celebrar a estrutura física sem reconhecer e valorizar a alma e a história que a mantiveram viva por tanto tempo. Esta omissão não é apenas um esquecimento, é um desprezo à memória coletiva e aos verdadeiros heróis locais, reforçando a percepção de uma administração alheia aos verdadeiros valores e histórias da cidade.
Que esta reabertura, tão aguardada, seja também um momento de reflexão profunda. Que a comunidade de Almino Afonso lembre-se e honre aqueles que, por amor e abnegação, construíram e mantiveram vivas as tradições e a estrutura deste lugar tão especial. Porque um patrimônio não é feito apenas de tijolos e argamassa, mas da memória viva, do suor e da paixão de pessoas como Antonio Nunes de Oliveira Sobrinho, o nosso Lila (in memoriam). E a verdadeira inauguração de um espaço só se completa quando a memória e o reconhecimento daqueles que o edificaram são devidamente celebrados, e quando o poder público cumpre seu dever de zelar por essa memória, e não apenas por obras, honrando a história de seu povo, que é, em última instância, a sua própria história.
PELO FUTURO DE ALMINO AFONSO,
DR. DESLEY NUNES RICARTE
Filho da Terra | Advogado.