O médico que faltou o plantão em um hospital público do Rio de
Janeiro (RJ) foi indiciado por omissão de socorro pelo delegado da
Polícia Civil que investiga a morte da menina Adrielly dos Santos
Vieira, de apenas 10 anos.
O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves não estava no local de
trabalho na hora em que a criança deu entrada baleada na cabeça na
véspera de Natal. A menina esperou oito horas para ser operada e acabou
não resistindo; vítima de omissão médica.
Dias depois, ao se apresentar à Polícia, o médico alegou que havia
informado à direção do hospital de que não cumpriria o plantão por
discordar da escala. Versão mentirosa. O chefe do plantão, Ênio Lopes,
disse à Polícia que ele era da mesma escala do neurocirurgião há dois
anos, mas nunca o tinha visto no trabalho.
Pois bem…
O caso registrado no Rio de Janeiro se repete no cotidiano dos
hospitais públicos brasileiros. As escalas de plantão nunca são
respeitadas, embora “preenchidas”. Ou seja, os médicos – salvo as
exceções – recebem o pagamento sem trabalhar. Por gravidade, deixam o
paciente à mercê da sorte.
Quantas vidas não foram abreviadas pela completa irresponsabilidade dos homens de branco?
O odioso é que esse tipo de comportamento não é identificado pela
massa popular. A máfia esconde esse tipo de crime e transfere para os
governos a responsabilidade pela falha na assistência à população. A
culpa é do gestor; nunca do médico.
No Rio Grande do Norte não é diferente. Aliás, parece pior. Os
médicos ditam as regras de acordo com suas conveniências, enquanto o
governo paga a conta e, de quebra, fica com o desgaste.
O cidadão, querendo, pode fazer a sua própria investigação e
verificar que determinados médicos, orientados por determinadas
cooperativas e determinados sindicatos/associações, não cumprem os seus
deveres, embora bem remunerados. Prova maior é a reação de setores da
classe médica à máquina de ponto, instalada pelo Governo para assegurar a
presença do profissional no local de trabalho.
Ora, ora… Se o médico cumpre a sua escala de trabalho, por que a resistência em “bater” o ponto?
Chegou a hora de o cidadão cobrar mais dos profissionais da saúde. As
entidades de classes, legítimos representantes da sociedade civil
organizada, devem exigir no mínimo uma investigação no setor.
É preciso cobrar responsabilidades, não sendo permitido que os malfeitos sejam transferidos para outros inocentes.
É inadmissível a inversão de valores, principalmente quando se trata de salvar vidas.
Jornal de Fato de Mossoró/RN