Em Almino Afonso-RN, o que deveria ser tratado com seriedade institucional virou peça de marketing natalino. A Prefeitura Municipal divulgou, em suas redes sociais oficiais, um anúncio do pagamento do salário de dezembro apenas dos servidores efetivos, utilizando imagem que remete a um objeto voador, em clara alusão ao Papai Noel, como se o dinheiro tivesse “caído do céu”.
O pagamento da remuneração de qualquer trabalhador - seja do setor público ou privado - não é favor, não é bônus, não é presente, muito menos um ato de benevolência de gestor algum. Trata-se de uma obrigação legal, moral e administrativa. Quem recebe salário, recebe porque trabalhou. É fruto direto do esforço, da dedicação e do serviço prestado à população.
Ao transformar uma obrigação básica de gestão em espetáculo natalino, a prefeita Jéssica Amorim (MDB) desconsidera um princípio elementar da administração pública, ou seja, o respeito ao trabalhador. A narrativa simbólica do “Papai Noel” não apenas infantiliza o debate, como também subestima a inteligência da população, como se o povo acreditasse que dinheiro público surge do nada.
E há um agravante que não pode ser ignorado: o próprio anúncio deixa claro que comissionados, contratados e prestadores de serviço seguem sem receber, como já ocorre de forma recorrente, sem qualquer previsão concreta de pagamento. Ou seja, enquanto uma parte do funcionalismo é usada em uma peça publicitária festiva, outra parte permanece invisível, esquecida e desrespeitada.
Na prática, a mensagem transmitida é cruel, pois existem trabalhadores de “primeira” e de “segunda” categoria. Todos trabalham, todos produzem, todos dependem do salário para sobreviver, mas nem todos recebem o mesmo tratamento - muito menos a mesma prioridade.
É preciso lembrar o óbvio, ainda que alguns insistam em negar: o dinheiro público não cai do céu. Ele vem dos impostos pagos pelo povo, aí incluídos os de Almino Afonso-RN. É com esse dinheiro que se pagam salários, obras, serviços, contratos - e também a remuneração da própria prefeita.
Usar imagens fantasiosas (fotos acima) para anunciar pagamento de salário é negar essa verdade básica. É fingir que o recurso surge por milagre, quando, na realidade, ele nasce do suor do trabalhador e do bolso do contribuinte.
Gestão pública não é palco de encenação. Não é conto de Natal. Não é fantasia. É responsabilidade.
Tratar salário como presente é, no mínimo, um desrespeito institucional. Tratar o povo como se acreditasse em Papai Noel, pior ainda.
O trabalhador público - efetivo ou não - sabe muito bem que seu salário não vem do céu. Vem do seu trabalho. E exigir respeito a isso não é exagero. É direito. Que vergonha!