A recente veiculação de inserções no horário eleitoral gratuito de televisão por parte do ex-governador Garibaldi Alves e de seu filho, o atual vice-governador do Rio Grande do Norte e presidente estadual do MDB, Walter Alves, reacendeu um debate antigo na política potiguar, ou seja, a apropriação oportunista de obras federais por grupos tradicionais.
Nas peças publicitárias, pai e filho tentam atribuir ao MDB a responsabilidade pela tão aguardada duplicação da BR-304 - rodovia que liga Mossoró a Natal e símbolo de um desejo histórico dos norte-rio-grandenses. Porém, essa versão vem sendo contestada por setores políticos que apontam incoerências evidentes no discurso.
Ao longo de suas carreiras, Garibaldi Alves acumulou cargos de grande influência, ou seja, foi deputado estadual, prefeito de Natal-RN por dois mandatos, governador duas vezes, senador e ministro de Estado. Walter Alves, por sua vez, foi deputado estadual e federal. Ambos, portanto, estiveram no centro das decisões nacionais em momentos chave - inclusive durante o governo Michel Temer (MDB), cuja ascensão só ocorreu após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT).
E é justamente esse ponto que os críticos ressaltam: Garibaldi e Walter eram aliados de Dilma até decidirem integrar a articulação que resultou em sua cassação. Ambos votaram com o MDB e com o então vice-presidente Michel Temer para derrubar o governo do qual faziam parte. Apoiavam a presidenta enquanto lhes era conveniente, mas, no momento decisivo, aderiram ao movimento que abriu caminho para Temer assumir a Presidência.
Ainda assim, mesmo com todo esse poder acumulado - antes e depois do impeachment -, nenhum avanço concreto na duplicação da BR-304 ocorreu enquanto Garibaldi e Walter ocupavam posições estratégicas na administração federal.
Para defensores do atual governo estadual, essa tentativa do MDB de se apresentar como “pai da obra” contrasta com a realidade, pois foi sob a gestão da governadora Fátima Bezerra (PT), em articulação direta com o presidente Lula (PT), que a duplicação finalmente saiu do campo das promessas e se tornou uma obra contratada, com início previsto para breve.
As reações às inserções publicitárias foram intensas. Para muitos, o MDB repete um padrão histórico, ou seja, tenta assumir o protagonismo de iniciativas que não conduziu. A trajetória política da família Alves - marcada por ocupação contínua de cargos, alianças flexíveis e facilidade em mudar de lado conforme a conveniência - reforça essa percepção. A narrativa que tenta vincular a duplicação da BR-304 aos Alves é vista como uma tentativa de recuperar capital político perdido, sobretudo após a derrota de Garibaldi nas eleições de 2022.
Para grande parte da sociedade potiguar, a postura dos dois desrespeita o sentimento popular. A BR-304 é reconhecida como conquista da governadora Fátima Bezerra e do presidente Lula - não de grupos que, quando tiveram a oportunidade e o poder político necessários, nada fizeram para tirá-la do papel.
No fim das contas, para além das peças publicitárias, o que permanece evidente aos olhos da população é simples: a obra só avançou de fato nos governos de Fátima e de Lula. No embate narrativo, cada eleitor terá sua leitura, mas os fatos são claros: a duplicação não foi conseguida pelos que agora tentam reivindicá-la, e sim por quem realmente lutou por ela quando teve chance.
Viva Lula. Viva Fátima. Viva a Federação (PT-PCdoB-PV). E que o povo do Rio Grande do Norte siga atento às narrativas que aparecem apenas em tempos de eleição.