Inaugurado em 1950, três anos antes da emancipação política de Almino Afonso-RN, o Mercado Público Central - oficialmente denominado Mercado Público Central “Francisco Nascimento de Paiva” - sempre representou muito mais do que um simples ponto de comércio. Desde sua origem, constituiu-se como um espaço de convivência, cultura e desenvolvimento, tornando-se um marco na formação social e urbana do município.
Edificado ainda na gestão do então prefeito de Patu-RN, Felinto de Paiva Gadelha, o mercado nasceu de uma articulação direta entre o poder público e a iniciativa privada. Comerciantes e prestadores de serviços - como barbeiros - receberam do município a concessão dos espaços onde ergueram, seguindo um padrão arquitetônico uniforme, seus estabelecimentos no entorno do prédio principal. Assim, formou-se um conjunto organizado que, desde os primeiros anos, consolidou um núcleo comercial dinâmico e fundamental para o cotidiano da futura cidade de Almino Afonso-RN.
À prefeitura cabia a responsabilidade pela estrutura interna, ou seja: o barracão (parte central), os alpendres, o espaço aberto entre esses e as duas entradas principais. Ali aconteciam as tradicionais feiras semanais - realizadas inicialmente aos domingos e, posteriormente, transferidas para os sábados - que movimentavam significativamente a economia local.
Comerciantes vindos de outras regiões traziam produtos que não eram produzidos no município e, ao mesmo tempo, adquiriam alimentos e artigos confeccionados pelos próprios moradores, como chapéus e bolsas de palha, panelas de barro e outros itens produzidos por agricultores e artesãos alminoafonsenses. Além disso, o mercado também se tornou palco de eventos festivos, entre eles carnavais que marcaram época e ajudaram a consolidar a vida cultural da comunidade.
Com o passar do tempo, porém, exatamente a parte pública - aquela que deveria ser preservada e mantida pelo município - entrou em processo de abandono. A ausência de manutenção transformou o que era um bem histórico em ruínas progressivas.
2022
O desfecho desse descaso ocorreu na manhã de julho de 2022, quando o barracão central veio abaixo. Não foi apenas uma cobertura que caiu: ruiu, simbolicamente, um capítulo importante da memória de Almino Afonso-RN.
As lojas pertencentes a comerciantes e prestadores de serviços permaneceram preservadas, graças ao compromisso e cuidado de seus proprietários. Ainda assim, é importante registrar que algumas dessas unidades comerciais, ao longo dos anos, tiveram suas fachadas modificadas, rompendo com o padrão arquitetônico definido à época de sua construção.
Mesmo com essas alterações, o contraste permanece evidente, ou seja, enquanto a área privada, com maior ou menor fidelidade ao projeto original, seguiu recebendo atenção e manutenção, a parte pública foi deixada ao abandono. É a prova concreta de que o zelo faz diferença.
Esse cenário torna ainda mais contraditório o fato de que aqueles que tiveram responsabilidade direta no abandono da estrutura pública se reúnam (22/11/2025) para uma “reinauguração”, recebendo aplausos de parte da população. Um gesto que exige reflexão: quem realmente merece o mérito pela preservação da história? E, mais ainda, por que aplaudir quem deixou o patrimônio chegar ao colapso?
22/11/2025
É necessário reafirmar com clareza: a recuperação do Mercado Público foi financiada com recursos dos contribuintes. Cada obra, cada reforma, cada real investido saiu do bolso da população. E, por isso mesmo, o povo tem o direito - e o dever - de cobrar transparência, responsabilidade e respeito com o que é coletivo.
Que esse episódio sirva como lição e alerta. O patrimônio histórico de Almino Afonso-RN não pode mais ser tratado com desatenção ou abandono. Preservá-lo é honrar a memória do município, fortalecer sua identidade e garantir que as futuras gerações possam conhecer, compreender e vivenciar a própria história.
O exemplo dos proprietários das lojas externas, que mantiveram seus espaços em boas condições mesmo diante do abandono da prefeitura, merece reconhecimento. Já o poder público precisa aprender, assumir responsabilidades e assegurar que episódios como o que destruiu o antigo mercado jamais se repitam.
Zelar pelo patrimônio público é zelar pela identidade de um povo. Que essa consciência - agora reforçada - nunca volte a ruir.