quarta-feira, 22 de maio de 2019

Flerte de Bolsonaro com a rua é 'terceiro turno'

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Desde que o Ministério da Educação reacendeu o pavio das ruas, Jair Bolsonaro só fez bobagens. Em poucos dias aprontou o seguinte: Chamou estudantes e professores de "idiotas úteis", endossou um texto que diz que o Brasil é "ingovernável", avalizou um vídeo no qual um pastor declara que ele foi enviado por Deus para consertar o país e empurrou seus seguidores nas redes para uma manifestação anti-Congresso convocada para domingo. 

Apoiador de presidente convocando manifestação popular é parte do jogo democrático. Presidente da República atiçando as ruas contra o Congresso é coisa que beira a insensatez. É como se Bolsonaro quisesse introduzir no processo eleitoral brasileiro um terceiro turno. No primeiro, prevaleceu como candidato antissistema. No segundo, despachou o petismo. No terceiro, tenta encurralar o Congresso. A conjuntura, que já era confusa, ficou ainda mais atrapalhada.. 

Um presidente que acaba de ser eleito para implantar um projeto de regeneração econômica e moral, em vez de negociá-lo na instância competente, recorre às ruas para desqualificar um Legislativo que saiu das mesmas urnas que o consagraram. A manobra é burra e incoerente. Bolsonaro flerta com a burrice ao injetar turbulência numa conjuntura que pede tranquilidade. Revela-se incoerente porque a jogada o deixa muito parecido com gente que ele sempre abominou. 

No plano nacional, dois presidentes tentaram emparedar o Congresso. Em 1964, o esquerdista João Goulart, com suas reformas de base. Deu em golpe e ditadura militar. Em 1992, o embusteiro Fernando Collor, com sua ilicitocracia. Deu em impeachment. No plano internacional, Bolsonaro parece inspirar-se no modelo venezuelano, no qual o coronel Hugo Chávez e o pupilo Nicolás Maduro deram brilho aos seus pendores golpistas com o verniz extraído das manifestações de rua. Deu no que está dando: ruína e baderna. 

Era só o que faltava: um Bolsonaro com cheiro de naftalina pré-64, aparência collorida e hábitos venezuelanos. 

Josias de Souza.