
Houve um tempo em que a "democracia" brasileira levava aspas. Nessa época, havia três poderes: Exército, Marinha e Aeronáutica. Após a redemocratização, quando o voto tirou as aspas da democracia, passaram a existir quatro poderes: o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e o Dinheiro da corrupção, que ainda era acobertado pela censura. Sob Bolsonaro, o sistema político brasileiro atingiu, finalmente, a perfeição. Virou uma democracia cuja Presidência está 100% isenta de democrata.
A conjuntura está crivada de ironias. Numa cruzada solitária, o capitão formou uma chapa puro-sangue militar. Cavalgando sobre os escombros de um sistema político apodrecido, prevaleceu sobre o petismo no segundo turno. De repente, informa aos seus 57 milhões de eleitores que o voto deles não passa de uma concessão dos militares. Para usar uma expressão que caiu nas graças do presidente, é como se Bolsonaro despejasse um "golden shower" sobre as urnas que o elegeram.
Por sorte, a mesma democracia que tolera um presidente que faz aliança preferencial com a tolice permite que os eleitores exerçam a cada quatro anos, com irrestrita liberdade, o inalienável direito de fazer besteiras por conta própria. Com a ajuda dos militares, que têm direito a voto. A despeito da possibilidade de alternância no poder, um jovem que ouve Bolsonaro discursando deve se perguntar: "Será que democracia é isso mesmo?".
Blog do Josias - Josias de Souza