sexta-feira, 1 de agosto de 2025

PT, MDB (BR) e PT, MDB (RN) - A pedido

O Brasil assistiu, em 2016, a um dos episódios mais traumáticos da sua jovem democracia, ou seja, a cassação do mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff, do PT, sob o pretexto de “pedaladas fiscais”. Um processo sem crime comprovado, conduzido por forças políticas ressentidas e interessadas em tomar o poder sem o crivo das urnas. À frente da manobra, o PMDB (hoje MDB) - partido historicamente afeito à ocupação pragmática de espaços de poder - assumiu, com Michel Temer, a Presidência da República. Foi golpe, sim! E o Brasil inteiro sofreu as consequências.

No Rio Grande do Norte, o mesmo MDB que foi protagonista daquele golpe continua operando com a velha lógica da conveniência. Garibaldi Alves, ministro da Previdência Social do governo Dilma Rousseff (PT) e pai do então deputado federal Walter Alves (PMDB/MDB), que votou pela cassação da presidente Dilma Rousseff, e outros nomes da tradicional família Alves sempre estiveram presentes em governos de diferentes partidos. Agora, esse mesmo partido ocupa a vice-governadoria do Estado, com Walter Alves compondo o segundo mandato da governadora Fátima Bezerra (PT).

Não é surpresa que, às vésperas da próxima eleição, integrantes e simpatizantes do MDB articulem para que Fátima antecipe sua saída do governo - ainda que legalmente o prazo seja seis meses antes do pleito (04/2026) - sob o argumento de que Walter precisa de mais tempo para "arrumar a casa". Na prática, querem tempo para consolidar uma nominata forte para a Assembleia Legislativa e Câmara Federal, fortalecendo exclusivamente o MDB. Mas e o PT? E os partidos da federação (PCdoB e PV)? Ficam reduzidos a coadjuvantes num roteiro onde o protagonismo é sempre do partido que mais ganha, mesmo quando pouco oferece em lealdade.

Vale lembrar: no último pleito, o MDB elegeu apenas um deputado estadual, que sequer seguiu orientação partidária, e nenhum deputado federal. A presença do MDB no palanque de Fátima teve sua importância, sim, mas jamais decisiva. O que impulsionou Fátima à reeleição foi o prestígio popular, a solidez da base petista e o respaldo da federação. Se Fátima não tivesse vencido, o MDB teria saído do pleito com um resultado pífio.

Neste momento, o que se articula nos bastidores não é uma transição natural, mas uma manobra para turbinar a presença do MDB em 2026, usando a estrutura governamental para seus próprios interesses. Com isso, quem perde é o PT e os partidos aliados, que verão sua base esvaziada por um parceiro que age mais como adversário do que como aliado.

É hora de refletir: o PT e a federação (PCdoB/PV) vão entregar seu capital político nas mãos de um partido que, historicamente, só joga com as cartas do próprio interesse? Um partido que apoiou o impeachment, que em nada contribuiu para eleger a bancada federal no RN, prova disso é que sua nominata não atingiu o número mínimo de votos para eleger um deputado federal, e que agora deseja se empoderar - para isso dizendo que o partido tem 45 prefeitos(as). No entanto, nem todos seguem Walter Alves - às custas da renúncia de uma governadora legitimamente eleita?

O MDB potiguar quer ampliar seu espaço sem ter ampliado sua base. Que lute por isso nas urnas - e não com atalhos institucionais. O PT, o PC do B, o PV e a militância devem estar atentos. O fortalecimento do MDB, neste caso, é diretamente proporcional ao enfraquecimento do campo progressista no Estado. E isso não pode ser naturalizado como parte do jogo. É deslealdade política travestida de estratégia eleitoral.